A doce Ideli

Publicado: 14/06/2011 em Política

Depois das mudanças anunciadas na semana passada nas pastas da Casa Civil, Relações Institucionais e Pesca, nesta segunda-feira tomaram posse, respectivamente, Gleisi Hoffmann, Ideli Salvatti e Luiz Sérgio. Com um discurso moderado, destoante da fama de cabeça quente que sempre apresentou durante os embates no Senado, Ideli Salvatti prometeu diálogo e ouvidos atentos às solicitações de parlamentares.

Trata-se de uma explícita troca, um “toma lá, dá cá” institucionalizado, que sempre ocorreu e está longe de ser extirpado da política nacional: aos congressistas é dado o que eles reivindicam junto ao governo federal que, por sua vez, “angaria” o apoio dos nobres senhores em votação de emendas, propostas e projetos de interesse da Presidência. As negociações se dão em torno das nomeações para cargos de segundo escalão em empresas estatais, quase que na totalidade carcomidas pela ingerência de caciques da política, além da liberação de verbas para emendas parlamentares. De cara, serão R$ 250 milhões.

Desde o período de campanha eleitoral, Dilma Roussef fez questão de ressaltar o caráter técnico que seria dado ao seu governo. Ao assumir a Presidência, as novidades ficaram a cargo da nomeação de um considerável número de mulheres. No mais, repetiram-se alguns nomes do governo Lula e seguiram-se indicações de outros majoritariamente petistas e peemedebistas.

Nos primeiros meses, a presidente priorizou a economia em detrimento das tratativas políticas do governo, deixando para segundo plano, inclusive, o famigerado loteamento de cargos entre os asseclas governistas, o que, no final das contas, acaba sendo usado como instrumento de chantagem pelos “desafortunados” que, de maneira nada republicana, atravancam as pautas do Congresso enquanto suas vontades pessoais não são atendidas.

Em um aviso ao mercado, Dilma sinalizou, em fevereiro deste ano, uma pretensa austeridade fiscal para se livrar de abalos na economia. Medidas para contenção de gastos e corte de despesas, além da inibição do consumo através do aumento dos juros de empréstimo e financiamento deram o tom da área econômica do governo. O controverso corte de R$ 50 bilhões no Orçamento para cumprir o superávit primário e manter a meta inflacionária em 6,5% foi uma maneira encontrada para se livrar da herança de seu antecessor, que seria chamada de maldita pelos governistas caso o governo anterior fosse de oposição.

Governistas e oposicionistas, em sua maioria, concordam que o setor político do governo foi negligenciado pela presidente durante o período em que esteve à frente das Relações Institucionais o agora ministro da Pesca, Luiz Sérgio. Segundo analistas políticos, não lhe foram dados poderes suficientes para falar e agir em nome da Presidência, o que acabou dificultando seu trânsito entre os parlamentares, até mesmo os da base aliada.

Como dito aqui neste blog, Luiz Sérgio foi “atropelado” pelo ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e se enfraqueceu até mesmo entre seus pares. Não mostrou capacidade de negociação, embora tenha saído do cargo afirmando ter feito o que estava ao seu alcance. Acredita-se que não houve “boa-vontade” da presidente para com o ex-ministro das Relações Institucionais e todo o poder, por determinação dela mesma, ficou nas mãos de Palocci. Sabemos como tudo terminou.

Agora, tentando virar o jogo a seu favor, Dilma diz não haver “dicotomia” entre os setores técnico e político do governo, mas faz questão de ressaltar as funções de suas principais ministras, Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, pondo para escanteio Luiz Sérgio ao nomeá-lo para um Ministério tão apagado quanto seu desempenho como coordenador político. Para a presidente, os campos político e econômico atuam em conjunto e não há privilégios.

Determinadas as funções de cada uma das ministras, Dilma pretende fortalecer as relações com o Congresso, a fim de que sejam destravadas pautas de interesse do governo. Para o diálogo, nomeou Ideli Salvatti, que até outro dia era conhecida pelo temperamento quente, exaltado e sem papas na língua quando se tratava de defender o governo no Senado, o que ela fez com unhas e dentes desde o período lulista.

Eis que surge uma Ideli dócil, cordial, sorridente, até mesmo recitando versos, como ocorreu ontem ao ser nomeada. Ao PMDB do vice-presidente Michel Temer, ela fez questão de reforçar, em seu discurso de posse, a importância no governo do partido aliado, tentando assim acalmar os ânimos dos descontentes e amaciar os egos inflados dos fisiologistas que, até então, se sentiram preteridos das atenções especiais de Dilma Roussef.

Considerando que ninguém muda da noite para o dia, a capacidade de articulação política da nova ministra das Relações Institucionais será uma incógnita, pelo menos, até os primeiros embates entre governo e Congresso, quando serão postas à prova sua “paciência oriental” e a habilidade em negociar com velhas raposas da política, cujos interesses, na maioria das vezes, são um entrave à governabilidade e ao bem da Nação.

comentários
  1. stella praetorius disse:

    É bom saber que toda essa articulação é em prol, “unicamente”, de nós brasileiros. Ah! como é bom ser brasileiro.

  2. Adilson disse:

    O poder tem a capacidade de iludir as pessoas, até mesmo de muda-las, mas realmente da noite pro dia…

    Abraços.

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