Petista de carteirinha e fiel defensor do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, o governador da Bahia, Jaques Wagner, não se acanha ao afirmar que o “combate à corrupção não pode se tornar ‘bandeira’ do governo”. Ainda segundo ele, isso seria uma “desserviço” ao País, pois “não estamos em patamar (de corrupção) que assuste e no mundo todo há esse problema”. Utilizando-se, a exemplo da presidente, de eufemismo para tratar o que em qualquer país sério seria tipificado como crime (e em outros, os condenados receberiam como sentença a pena de morte), Wagner argumenta que Dilma tem feito apenas “ajustes de conduta” ao lidar com a roubalheira instalada na Esplanada dos Ministérios, o que resultou no afastamento de alguns ministros e funcionários de segundo escalão envolvidos em escândalos.
As declarações de Wagner foram feitas durante almoço com empresários de São Paulo ocorrido no dia 23. Ele também afirmou que, se Dilma não concorrer em 2014 e Lula estiver fora do páreo, será candidato à Presidência pelo PT. Mas, tentando dar um tom suave às suas especulações e para não causar intrigas entre os “companheiros”, o governador baiano disse que a sua prioridade para 2014 é trabalhar em prol da reeleição de Dilma e, caso ela não se candidate, antes de pensar em uma candidatura própria, Wagner se dedicaria de corpo e alma ao retorno do velho camarada.
Apenas para confirmar o que todos já sabíamos, Jaques Wagner aposta que não haverá ruptura entre Dilma e Lula, afirma que o ex-presidente tem um compromisso com este governo e, por esse motivo, “eles conversam toda semana e se encontram pessoalmente a cada 15 dias”. Como já dito algumas vezes aqui neste blog, o petista baiano apenas ratifica a influência lulista sobre o atual governo e a predisposição do antecessor da presidente em continuar agindo como uma “eminência parda”, como um conselheiro-mor de uma mandatária titubeante.
Filiado ao partido desde 1980, Wagner foi um dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Bahia. Tendo concorrido ao governo daquele Estado em 2002, perdeu para o então “carlista” Paulo Souto. A vitória em 2006 foi considerada por muitos como o fim do “carlismo”, símbolo máximo da fortíssima influência do falecido Antonio Carlos Magalhães (vulgo ACM ou, ainda, Toninho Malvadeza para os “íntimos”). Antes de ser eleito governador da Bahia, Jaques Wagner chegou a ser ministro do Trabalho e, em seguida, das Relações Institucionais no governo Lula.
Em seu segundo mandato, Wagner tem em seu currículo de governador índices não muito favoráveis, principalmente quando se trata de violência. Para se ter uma idéia, em 1997 havia 13 homicídios para cada 100 mil habitantes na Bahia e, dez anos depois, já sob a governança do petista, o número de homicídios chegou a 25,7 por 100 mil. Em 2010, subiu para 36. Baianos como eu, apesar de ausentes da “terrinha”, sabem muito bem a quantas anda a segurança pública, principalmente na capital do Estado. Registre-se que a taxa de homicídios em Salvador (61 por 100 mil) é duas vezes maior que a da cidade do Rio de Janeiro!
Os dados sobre a violência retratam números absurdos e as informações são da própria Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Se há omissão naquilo que se apresenta, significa que a situação é bem pior na “terra da alegria”. Conforme dados da SESP/BA publicados no Jornal da Metrópole (semanário distribuído às sextas-feiras), do dia 20 ao 24 deste mês houve 25 homicídios, 20 tentativas de homicídio, 13 roubos a ônibus coletivos e 33 veículos roubados. A maioria dos assassinatos envolve moradores da periferia e estão, quase sempre, ligados ao tráfico de drogas.
Após o sucateamento de viaturas das polícias civil e militar, além da desativação de postos da PM estrategicamente localizados nas áreas mais violentas, o governo da Bahia anunciou recentemente que, para combater o narcotráfico, já existe um “mapa detalhado” e que serão adotadas as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), a exemplo do que acontece no Rio de Janeiro. Para quem não se lembra, trata-se daquela forma de combate ao crime em que se avisa aos bandidos onde e quando ocorrerá a ocupação pela polícia, dando-lhes chances de procurarem outras favelas, cidades ou Estados. Feito isto, convoca-se a mídia e anuncia-se à população a “volta da paz” onde antes reinava a insegurança.
O retrocesso do Estado sob a liderança de Wagner não se deu apenas no campo da segurança pública. A economia também sofre as conseqüências do desastrado governo petista: seguidamente, a Bahia perde investimentos para outros Estados da região Nordeste, principalmente para os vizinhos Pernambuco e Sergipe. Outro dado interessante, e não menos fatídico, é que, enquanto Recife diminui os seus índices de violência (ainda que sejam altíssimos), os de Salvador aumentam a uma velocidade assustadora. De acordo com o Mapa da Violência 2010/2011, a Bahia fica atrás apenas do Maranhão entre as unidades da Federação com maior crescimento no número de homicídios.
Com esse quadro nada favorável, Jaques Wagner tem a cara de pau de admitir que “está na fila” para concorrer à Presidência em 2014! É, no mínimo, fazer pouco caso da situação caótica em que se encontram a saúde e a segurança pública (só para ficar nesses dois exemplos) da Bahia. É querer vender uma imagem que não existe, pois muitos baianos o consideram (e de fato foi o que ele demonstrou nesses quase cinco anos de mandato) um péssimo administrador e um político cuja preocupação maior está bem longe do interesse dos baianos e bem próxima do Planalto Central.
Para se ter uma idéia do disparate e da irresponsabilidade do governo petista na Bahia, conforme reportagem da Folha de São Paulo, enquanto foram gastos, em 2009, R$26 milhões com segurança pública, o investimento em propaganda institucional (aquela que os governos costumam usar para pintar um quadro de fantasias e alegria) ultrapassou os R$108 milhões, ou seja, quatro vezes mais! Como se vê, não é fácil ser “alegre” na Bahia nem tampouco ficar “relaxado”, pois a tensão causada pela crescente violência está muito longe da colorida imagem vendida para turistas nacionais e estrangeiros.
É preciso ficar atento às intenções do filhote baiano do lulo-petismo e freá-las o quanto antes. Como bem se sabe, quando se trata de “trabalhar a imagem” de pretensos candidatos petistas, todas as armas são usadas, desde a elaboração de falsos dossiês contra potenciais adversários à negação da verdade (ainda que ela nos salte aos olhos) até as últimas conseqüências. É o que vimos nos últimos tempos e é o que continuamos a ver.