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A escola baiana do PT

Publicado: 26/08/2011 em Cotidiano, Economia, Política

Petista de carteirinha e fiel defensor do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, o governador da Bahia, Jaques Wagner, não se acanha ao afirmar que o “combate à corrupção não pode se tornar ‘bandeira’ do governo”. Ainda segundo ele, isso seria uma “desserviço” ao País, pois “não estamos em patamar (de corrupção) que assuste e no mundo todo há esse problema”. Utilizando-se, a exemplo da presidente, de eufemismo para tratar o que em qualquer país sério seria tipificado como crime (e em outros, os condenados receberiam como sentença a pena de morte), Wagner argumenta que Dilma tem feito apenas “ajustes de conduta” ao lidar com a roubalheira instalada na Esplanada dos Ministérios, o que resultou no afastamento de alguns ministros e funcionários de segundo escalão envolvidos em escândalos.

As declarações de Wagner foram feitas durante almoço com empresários de São Paulo ocorrido no dia 23. Ele também afirmou que, se Dilma não concorrer em 2014 e Lula estiver fora do páreo, será candidato à Presidência pelo PT. Mas, tentando dar um tom suave às suas especulações e para não causar intrigas entre os “companheiros”, o governador baiano disse que a sua prioridade para 2014 é trabalhar em prol da reeleição de Dilma e, caso ela não se candidate, antes de pensar em uma candidatura própria, Wagner se dedicaria de corpo e alma ao retorno do velho camarada.

Apenas para confirmar o que todos já sabíamos, Jaques Wagner aposta que não haverá ruptura entre Dilma e Lula, afirma que o ex-presidente tem um compromisso com este governo e, por esse motivo, “eles conversam toda semana e se encontram pessoalmente a cada 15 dias”. Como já dito algumas vezes aqui neste blog, o petista baiano apenas ratifica a influência lulista sobre o atual governo e a predisposição do antecessor da presidente em continuar agindo como uma “eminência parda”, como um conselheiro-mor de uma mandatária titubeante.

Filiado ao partido desde 1980, Wagner foi um dos fundadores do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Bahia. Tendo concorrido ao governo daquele Estado em 2002, perdeu para o então “carlista” Paulo Souto. A vitória em 2006 foi considerada por muitos como o fim do “carlismo”, símbolo máximo da fortíssima influência do falecido Antonio Carlos Magalhães (vulgo ACM ou, ainda, Toninho Malvadeza para os “íntimos”). Antes de ser eleito governador da Bahia, Jaques Wagner chegou a ser ministro do Trabalho e, em seguida, das Relações Institucionais no governo Lula.

Em seu segundo mandato, Wagner tem em seu currículo de governador índices não muito favoráveis, principalmente quando se trata de violência. Para se ter uma idéia, em 1997 havia 13 homicídios para cada 100 mil habitantes na Bahia e, dez anos depois, já sob a governança do petista, o número de homicídios chegou a 25,7 por 100 mil. Em 2010, subiu para 36. Baianos como eu, apesar de ausentes da “terrinha”, sabem muito bem a quantas anda a segurança pública, principalmente na capital do Estado. Registre-se que a taxa de homicídios em Salvador (61 por 100 mil) é duas vezes maior que a da cidade do Rio de Janeiro!

Os dados sobre a violência retratam números absurdos e as informações são da própria Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Se há omissão naquilo que se apresenta, significa que a situação é bem pior na “terra da alegria”. Conforme dados da SESP/BA publicados no Jornal da Metrópole (semanário distribuído às sextas-feiras), do dia 20 ao 24 deste mês houve 25 homicídios, 20 tentativas de homicídio, 13 roubos a ônibus coletivos e 33 veículos roubados. A maioria dos assassinatos envolve moradores da periferia e estão, quase sempre, ligados ao tráfico de drogas.

Após o sucateamento de viaturas das polícias civil e militar, além da desativação de postos da PM estrategicamente localizados nas áreas mais violentas, o governo da Bahia anunciou recentemente que, para combater o narcotráfico, já existe um “mapa detalhado” e que serão adotadas as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), a exemplo do que acontece no Rio de Janeiro. Para quem não se lembra, trata-se daquela forma de combate ao crime em que se avisa aos bandidos onde e quando ocorrerá a ocupação pela polícia, dando-lhes chances de procurarem outras favelas, cidades ou Estados. Feito isto, convoca-se a mídia e anuncia-se à população a “volta da paz” onde antes reinava a insegurança.

O retrocesso do Estado sob a liderança de Wagner não se deu apenas no campo da segurança pública. A economia também sofre as conseqüências do desastrado governo petista: seguidamente, a Bahia perde investimentos para outros Estados da região Nordeste, principalmente para os vizinhos Pernambuco e Sergipe. Outro dado interessante, e não menos fatídico, é que, enquanto Recife diminui os seus índices de violência (ainda que sejam altíssimos), os de Salvador aumentam a uma velocidade assustadora. De acordo com o Mapa da Violência 2010/2011, a Bahia fica atrás apenas do Maranhão entre as unidades da Federação com maior crescimento no número de homicídios.

Com esse quadro nada favorável, Jaques Wagner tem a cara de pau de admitir que “está na fila” para concorrer à Presidência em 2014! É, no mínimo, fazer pouco caso da situação caótica em que se encontram a saúde e a segurança pública (só para ficar nesses dois exemplos) da Bahia. É querer vender uma imagem que não existe, pois muitos baianos o consideram (e de fato foi o que ele demonstrou nesses quase cinco anos de mandato) um péssimo administrador e um político cuja preocupação maior está bem longe do interesse dos baianos e bem próxima do Planalto Central.

Para se ter uma idéia do disparate e da irresponsabilidade do governo petista na Bahia, conforme reportagem da Folha de São Paulo, enquanto foram gastos, em 2009, R$26 milhões com segurança pública, o investimento em propaganda institucional (aquela que os governos costumam usar para pintar um quadro de fantasias e alegria) ultrapassou os R$108 milhões, ou seja, quatro vezes mais! Como se vê, não é fácil ser “alegre” na Bahia nem tampouco ficar “relaxado”, pois a tensão causada pela crescente violência está muito longe da colorida imagem vendida para turistas nacionais e estrangeiros.

É preciso ficar atento às intenções do filhote baiano do lulo-petismo e freá-las o quanto antes. Como bem se sabe, quando se trata de “trabalhar a imagem” de pretensos candidatos petistas, todas as armas são usadas, desde a elaboração de falsos dossiês contra potenciais adversários à negação da verdade (ainda que ela nos salte aos olhos) até as últimas conseqüências. É o que vimos nos últimos tempos e é o que continuamos a ver.

Apesar de ter passado por diversos partidos em sua longa trajetória política, pode-se dizer que o ex-presidente Itamar Franco (PPS), morto no dia 2 de julho aos 81 anos, manteve-se coerente aos seus princípios de homem público, coisa cada vez mais rara de se ver nos dias de hoje. Baiano de nascimento e mineiro de criação, ele era conhecido pelo mau-humor, teimosia e honestidade. Sim, Itamar era um político honesto, o que pode ser considerado um exemplo máximo de oxímoro. Morreu, como se sabe, sem ter enriquecido ilicitamente, prática costumeira na classe política que aí está, e sem nunca ter sido acusado de corrupção, ao contrário de seu suplente no Senado, José de Oliveira Costa (PDT).

Zezé Perrella, apelido pelo qual é conhecido o suplente de Itamar, é presidente do Cruzeiro e, segundo denúncias de um jornal mineiro, ele ocultou da declaração de bens uma fazenda no valor de R$ 60 milhões. Ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Perrella informou ano passado um patrimônio de R$ 490 mil. Ele estava sendo investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais por lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e evasão de divisas. Assumindo a vaga de Itamar, as investigações só avançam se o Supremo Tribunal Federal autorizar. Coisas do Brasil!

Itamar Franco iniciou sua carreira política nos anos 50, ingressando no PTB, mas só conseguiu se eleger prefeito de Juiz de Fora quando se filiou ao antigo MDB, governando a cidade de 1967 a 1971, sendo reeleito no ano seguinte. Em 1974, renunciou à Prefeitura para se candidatar ao Senado e foi eleito representante de Minas Gerais. Reeleito em 1982, desta vez pertencendo ao PMDB (substituto do MDB), Itamar participou ativamente da campanha das Diretas Já!, ao lado de Tancredo Neves. Depois de desentendimentos internos, ele mais uma vez trocou de partido, indo para o PL.

Suas mudanças de partido não o colocam na mesma categoria de políticos que usam desse expediente para, pura e simplesmente, obterem vantagem pessoal. Controverso por natureza, seus defeitos e qualidades permearam sua vida pública e, por obstinação, ele tentou se abrigar em partidos que lhe dessem espaço para “implementar” suas idéias e ações no campo político. Em algumas situações teve sucesso, em outras não.

O ponto máximo do político Itamar aconteceu quando ele resolveu largar o PL para se filiar a um pequeno partido chamado PRN (Partido da Reconstrução Nacional), que lançou o então governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, à Presidência. O “caçador de marajás” precisava de um nome da região Sudeste para compor a chapa naquelas eleições e o mineiro, por ter fácil trânsito entre os políticos àquela época, foi escolhido para ser candidato a vice-presidente.

A parceria não durou muito e começou a se desgastar aceleradamente quando o vice-presidente percebeu que era constantemente preterido por Collor de decisões importantes. Divergências políticas vieram à tona e Itamar começou a se afastar do então presidente e a declarar em público sua insatisfação quanto à condução da política econômica, além de reprovar a nomeação de ministros que eram conhecidos colaboradores do regime militar.

Em maio de 1992, Itamar Franco desligou-se do PRN e quando as denúncias de corrupção contra Fernando Collor se intensificaram, ele se tornou um dos principais críticos do presidente que, afastado interinamente do cargo em outubro do mesmo ano, renunciou dois meses depois, sendo a vaga assumida pelo vice-presidente.

Como lembrou o próprio Itamar em entrevista concedida à rede Globo no ano passado, em junho de 1994 a inflação chegou a 46,58% e, no mês seguinte, já sob os efeitos do Plano Real, a inflação foi de 6,08%. Os altos índices inflacionários “corroíam” os salários e não havia preços fixos para as mercadorias, que sofriam várias alterações em um só dia. Com um exemplo “bem mineiro” e tentando explicar aos jovens que não eram nascidos ou aos que não se lembram desse período macabro da economia brasileira, o ex-presidente citou a variação de preço de um item indispensável na mesa do brasileiro: o pãozinho. Segundo ele, o pão era comprado por um valor de manhã, à tarde já tinha sofrido mudança no preço e à noite também havia outra variação. Era o período da hiperinflação.

Ao ter deixado a Presidência, Itamar saiu com 84% de popularidade e, durante o seu mandato, pode-se afirmar que houve uma união de partidos em prol da estabilidade econômico-financeira como nunca se viu antes. A exceção (como não poderia deixar de ser) ficou a cargo do Partido dos Trabalhadores que sempre se opôs ao governo e principalmente ao Plano Real, apostando abertamente no fracasso das medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda.

Itamar não se rendeu às práticas corriqueiras da política nacional, como clientelismo, troca de favores ou nomeação de apaniguados. Como disse Fernando Henrique, o ex-presidente não se encantou com o poder e nunca perdeu a simplicidade. Apesar do temperamento forte e explosivo, ele sempre soube lidar com os seus subordinados da melhor forma possível e tratou os adversários com dignidade. Ao ter seu chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, envolvido em denúncia de tráfico de influência, Itamar afastou-o imediatamente para que fossem feitas as investigações. Comprovada a sua inocência, Hargreaves foi reconduzido ao cargo pelo ex-presidente. Que o governo petista ou tantos outros ajam dessa mesma maneira é impensável nos dias de hoje…

Não há dúvidas de que o tempo lhe dará o merecido lugar na história recente do Brasil e sua importância será reconhecida. Será lembrado como o homem que avalizou as mudanças econômicas necessárias para tornar o País economicamente estável. Vale lembrar que, muito antes dos programas de assistência social que se tornaram “bandeira” do governo Lula, Itamar elaborou os primeiros projetos de combate à miséria ao lado do falecido sociólogo Betinho. Pela honradez durante toda a vida pública, o ex-presidente é um caso raro de enobrecimento político que destoa da pobreza de idéias, ações e atitudes dos “espécimes” que aí estão e, rotineiramente, são envolvidos em escândalos de corrupção e eternamente protegidos por seus superiores.

Antes mesmo de decretar estado de calamidade pública, o governo do Estado já sinalizava que não realizaria o arraial do Parque Anauá, alegando falta de verba e de condições do local para abrigar um evento desse porte, motivos há muito já conhecidos por todos os boa-vistenses e noticiados a todo tempo. A Prefeitura há poucos dias trilhava o mesmo caminho ao comentar a incerteza quanto à realização do “maior arraial do Norte” pois, devido à redução de repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o caixa anda “apertado”, o que, ainda segundo o Executivo municipal, tem sido motivo de atraso no pagamento de salários dos servidores.

Ainda à espera da liberação dos R$ 15 milhões provenientes do Ministério da Integração Nacional para reconstrução das áreas atingidas pelas fortes chuvas dos últimos dias e para assistência às vítimas da enchente do Rio Branco, Boa Vista se prepara para a realização de sua tradicional festa junina, que começará no dia 9 de julho e se estenderá até o dia 16. Espera-se, segundo a Prefeitura de Boa Vista, que 120 mil pessoas visitem o Arraial nesse período e haja uma movimentação financeira de R$ 4 milhões, além da geração de emprego e renda.

Neste ano, o Canil da Guarda Municipal foi desativado. Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito (SMSUT), o seu fechamento deveu-se (também) à redução do FPM e constava do pacote de medidas adotas pela Prefeitura para ajustar o orçamento em virtude da crise financeira pela qual Boa Vista tem passado ultimamente. A mesma Secretaria argumentou, ainda, que se tratava apenas de uma unidade de suporte e por isso não haveria nenhum prejuízo para a defesa do patrimônio da cidade.

À época, o presidente do Sindicato dos Guardas Municipais do Estado de Roraima, Vilmar Moreira, contestou a decisão da Prefeitura e disse que tentaria convencer as autoridades a não fechar o Canil, alegando a necessidade de uso dos cães em determinados tipos de abordagem a marginais, busca por drogas e apoio à Polícia Civil em investigações. Tudo isso, segundo ele, com um baixo custo de manutenção dos animais.

Eram gastos R$ 600 por mês, ou seja, R$ 7,2 mil por ano e, ainda assim, com a ajuda de cota dos guardas para alimentar e medicar os animais. As tentativas de Moreira foram frustradas e, como se sabe, não houve “busca de parcerias” para que se tentasse solucionar o problema. Vale lembrar também a situação dos restaurantes populares que em março foram fechados por dois dias. O motivo alegado? Falta de recursos em conseqüência (mais uma vez!) da redução do FPM.

A falta de urgência para evitar que se desativasse o Canil é, no mínimo, um contra-senso se compararmos à agilidade da Prefeitura na organização do arraial deste ano. Vale ressaltar que, cada equipe do grupo especial de quadrilhas juninas receberá R$ 8 mil. Ou seja, por alguns dias de festa elas receberão R$ 800 a mais do que se gastaria em um ano cuidando dos cães que “trabalhavam” na Guarda Municipal. A Prefeitura deve repassar R$ 130 mil para as 20 quadrilhas e há uma semana foi realizado o chamado “Esquenta Junino”, evento para a escolha da Rainha e Rei Caipiras, cujo total da premiação (em dinheiro) era de R$ 6,3 mil.

As informações são de que serão gastos R$ 480 mil pela Prefeitura Municipal na realização do evento, podendo chegar a R$ 800 mil com a ajuda proveniente dos parceiros do setor privado. A expectativa de Mário Augusto Moura, vice-presidente da Liga de Quadrilhas de Roraima (Liquajur), era a de que o governo do Estado repassasse R$ 324 mil para todas as quadrilhas da capital e do interior.

Não há dúvidas de que investimento em cultura, geração de “emprego e renda” e o esforço para que se realize um evento de tamanha importância para o município sejam louváveis. A dúvida é quanto ao critério (se houver) para a escolha de prioridades, quando Estado e municípios passam por dificuldades financeiras que atingem o bom funcionamento administrativo e as políticas públicas não são suficientes para atender as demandas mais urgentes, como saúde e educação de qualidade, além do investimento em infraestrutura.

Enquanto isso, quase 1.900 pessoas, entre desabrigados e desalojados, ainda sofrem as conseqüências diretas das fortes chuvas de “inverno” que elevaram o nível do Rio Branco como não se via há muito tempo. Elas ainda dependem da doação de cestas básicas, roupas, do amparo de amigos e parentes, pois muitas perderam casas, móveis e eletrodomésticos. Não se pode dizer que faltou solidariedade da população e que os órgãos públicos não tenham se esforçado para tentar dirimir a dor dessas pessoas (antes tarde do que nunca!).

Se investir em eventos como esse faz circular milhões de reais, já não seria hora de Estado e municípios unirem forças para “alavancar” a cultura e o turismo, não somente em datas comemorativas? Não seria mais “lucrativo” se organizar, planejar e “buscar parcerias” em prol da industrialização e melhoria da prestação de serviços para que mais recursos sejam arrecadados e nos tornemos menos dependentes do FPM e do FPE? Por que a urgência de algumas ações não se aplica a outras e, na maioria das vezes, tenta-se “tapar o sol com a peneira” e esperar o pior acontecer, o que nos coloca à mercê dos recursos federais e da ajuda que custam a chegar?

Em determinadas situações, faz-se mais que urgente a necessidade de quebra de “protocolo” na adoção de medidas que visem ao bem comum, principalmente quando se trata da redução de desigualdades sociais e do atendimento às pessoas atingidas por “desastres naturais”. Seria de bom tom se, ao menos em situações críticas, víssemos o mesmo empenho e rapidez que há na organização de festas e na busca de parcerias para a realização de grandes eventos.

Assim como há competência para agendar, conforme o orçamento de cada poder executivo, os eventos de todo ano e contemplar cada pasta com verbas generosas, seria razoável se o planejamento e a prevenção também fizessem parte da administração pública evitando, assim, os transtornos causados à população em períodos “atípicos” e o gasto desnecessário de tempo e dinheiro para amenizar os estragos.

A “economia do contracheque” ainda é o carro-chefe do PIB roraimense. O setor de serviços se destaca como a principal atividade econômica do Estado, dependendo de uma folha de pagamento de aproximadamente 40 mil funcionários públicos, o que não deixa de ser uma compensação à inexpressividade de indústrias e um complemento ao repasse de verbas federais para a manutenção de Roraima.
A agricultura, a pecuária e o extrativismo formam a base produtiva estadual, porém no ranking de geração de riquezas estamos em último lugar no cenário brasileiro. Para piorar o quadro, uma vasta área de preservação indígena impossibilita a instalação de indústrias e a ampliação de espaços para produção agropecuária. Roraima também sofre perdas econômicas devido ao contrabando de produtos da Venezuela e da Guiana, que vão desde tênis a eletroeletrônicos, além de outros adquiridos do vizinho Amazonas, a preços mais acessíveis.
Além desses entraves, a deficiência no fornecimento de energia elétrica atrapalha o desenvolvimento econômico. Em 2001, para amenizar parte desse problema, foi inaugurada a primeira etapa do Complexo Hidrelétrico de Guri-Macágua, em um acordo assinado entre Brasil e Venezuela. Mas, frequentemente, as interrupções de energia e a falta de investimentos nos fazem lembrar da fragilidade do setor elétrico estadual.
O Governo tenta atrair investimentos e a instalação de indústrias, por meio de incentivos fiscais, a exemplo da incipiente Área de Livre Comércio (ALC), que concederia crédito fiscal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as mercadorias de outros Estados adquiridas por contribuintes dessa área. Os comerciantes e consumidores locais reclamam da ineficiência da ALC e continuam buscando outros mercados mais em conta. Outra medida “promissora”, a criação da ZPE (Zona de Processamento e Exportação), ainda nem saiu do papel.
Dados do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Estado, elaborado pela Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento, informam que 54% do território roraimense são destinados às áreas protegidas; dos 46% restantes, 35% são formados por savanas e cerrados. Além disso, 80% de florestas devem constituir áreas de reserva legal e de preservação permanente. Conclui-se que, para a produtividade, o Estado dispõe fisicamente de 21% de todo o território, uma área maior que a da Dinamarca, porém pequena para os anseios de crescimento.
Além desses obstáculos, o clientelismo e a troca de favores, recrudescidos em época eleitoral, são fatores determinantes para o atraso local. A manutenção do cabide de empregos, a dependência de recursos federais e a notória influência estatal em diversos segmentos são empecilhos para o desenvolvimento, pois sufocam a iniciativa privada e tornam a população dependente dos benefícios do Estado.
É dito que não se deve dar o peixe, mas sim ensinar a pescar. Mas, além de continuarem dando o peixe e nunca ensinarem a pescar, no lugar das redes para pesca são doadas redes para dormir, talvez para acalentar o povo nos braços de um governo paternalista e garantir que continuemos esparramados em berço esplêndido, esperando sempre a proteção e uma ajudinha do “paizão” Estado .

Atraso*

Publicado: 12/04/2011 em Cotidiano, Economia

Uma das cidades com a menor população do País (277.684 habitantes, de acordo com Censo 2010, IBGE), Boa Vista ainda caminha a passos lentos para tentar alcançar uma posição de destaque no cenário nacional, a exemplo de outras capitais, inclusive da Região Norte, como Belém e Manaus. Ter amor ou paixão pela terra não pode esvaziar o debate quando se trata de apontar as mazelas que nos afligem, nem tampouco servir de argumento para ignorar os fatos que aí estão. Sem dúvida, somos “esquecidos” e quando aparecemos nos telejornais do eixo Rio – São Paulo (a grande imprensa, dirão alguns), as más notícias é que nos levam até lá.
Penamos com maus governantes e os nossos ditos “representantes legais”, somos vítimas do mau-atendimento e até do desprezo de empresas que aqui se instalam; além disso, o “desconhecimento” geográfico volta e meia nos “coloca” em lugares indevidos no mapa (é comum a confusão entre Roraima e Rondônia). Ainda há muito que se fazer, mas é preciso parar com o pensamento de que ainda somos um Estado “recém-criado”, como se isso explicasse parte do atraso em que nos encontramos.
Habitada por gente de quase todo o Brasil, poderíamos dizer que esse “caldeirão cultural” nos aproximaria dos grandes centros urbanos, mas, por enquanto, apenas nos assemelhamos, em certos aspectos, a uma cidadezinha do interior de tempos antigos, principalmente no que se refere à prestação de serviços e à nossa velha política (não que nesse ponto se difira muito do resto do País, mas aqui parecem ser mais intensos o clientelismo e o coronelismo que tanto a caracterizam).
Algumas coisas nos fazem lembrar constantemente do nosso atraso, e a conexão a internet é uma delas. As interrupções são constantes, a lentidão idem, tanto faz se você tem um modem de última geração ou tenta se conectar através da “banda larga” usada em casa. O serviço é falho e não discrimina classe social ou valor de assinatura de pacote. O mesmo mau serviço é visto nas lojas de atendimento, nos bares e restaurantes da cidade (assunto para outro post).
A operadora responsável pela banda larga em Boa Vista não atende a todos os bairros e usa um leque variado de desculpas para tentar justificar porque ainda não ampliou o serviço. Para completar, a mesma empresa deixa a desejar quando se trata de telefonia móvel celular. As outras operadoras também pecam, tanto no serviço móvel quanto na conexão 3G.
Inúmeras promessas de melhoria foram feitas, mas até para entrar no Plano Nacional de Banda Larga, do Governo Federal, Roraima teve dificuldades. Segundo o Ministério das Comunicações, a meta do PNLB é levar banda larga por um preço acessível a todos os municípios do Brasil, mas, até então, a falta de uma rede de fibras óticas era apontada como obstáculo para contemplar o Estado com internet rápida.
Segundo Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, esse problema será resolvido através das linhas de transmissão de energia da Venezuela usadas pela Eletronorte. Ele ainda afirmou ter assinado um ”protocolo de intenções” com a Argentina e que há negociações com o Paraguai sobre uma possível interligação das redes de fibra ótica dos países sul-americanos.
Enquanto isso nos resta esperar e admirar, como já ilustraram algumas reportagens, cidadezinhas com menos de 100.000 habitantes (em Minas Gerais e São Paulo, por exemplo) que oferecem, gratuitamente, internet wi-fi aos seus moradores e onde a banda larga já é tão comum quanto banana na feira. Aqui, por enquanto, só “bananas” nos são dadas e o desrespeito ao cliente parece ser cláusula pétrea nas cartilhas do (mau) atendimento e nos contratos das empresas de telecomunicações. Até quando?!

*Originalmente publicado em 1º/04/11 no http://baianonarede.zip.net

A propósito do início das discussões sobre um possível reajuste da tarifa de ônibus em Boa Vista, levanta-se mais uma vez a questão: como cobrar caro por um transporte deficitário, com ônibus precários, rotas e horário idem? Pagar R$ 2,00 para usar o sistema de transporte urbano não é compatível com o orçamento de muitas famílias que, muitas vezes, dependem única e exclusivamente da ajuda do Estado/municípios para ter o pão de cada dia à mesa.
Amparados sempre pela mesma história de que é inevitável o aumento do valor da passagem quando se tem aumento de combustível, empresários do setor de transportes lançam “mão pesada” e estipulam valores muitas vezes arbitrários. Não há cálculos, não há justificativas, apenas o pensamento de que os custos de manutenção e abastecimento dos veículos também se elevam automaticamente.
Conforme noticiado hoje, a empresa responsável pelo transporte coletivo em Boa Vista cogita um aumento de 12,5% na tarifa urbana. Cidades como São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre, registraram, respectivamente, variações de 7,53%, 6,29%, 5,04%, 2,94% e 1,22%. Ressalte-se que, algumas dessas cidades, reajustaram as tarifas sob protestos e depredações da população insatisfeita, principalmente estudantes.
Observe-se que naquelas cidades há malhas viárias mais complexas do que as boa-vistenses e variedade de empresas que ofertam esse tipo de serviço. A qualidade do transporte deixa a desejar em muitas dessas cidades, mas, em Boa Vista, os trechos percorridos diariamente pelos ônibus coletivos são relativamente curtos e não há atendimento a todos os bairros, o que deixa a desejar mais ainda.
Para suprir o déficit de ônibus coletivos, a população usa os “afamados” táxis-lotação, que também “pecam” quando o assunto é bom atendimento. São constantes as reclamações a respeito de motoristas que evitam determinadas rotas, andam em alta velocidade, não respeitam a sinalização, dentre outras infrações.
Ainda assim, o caos se instalaria na cidade entre aqueles que dependem de transporte coletivo em Boa Vista (ônibus e táxi-lotação), caso um dos dois sistemas deixasse de funcionar. Como não há muitas opções e todos precisam sair de casa, faz-se necessário o uso desse tipo de “serviço público”. A população torna-se refém da má qualidade, do custo elevado do transporte e do descaso das autoridades.
Na carona de um possível aumento da tarifa dos ônibus coletivos, o Sindicato dos Taxistas também cogita a possibilidade de elevar o valor da passagem dos táxis-lotação: passariam de R$ 2,50 para “R$ 2,75 ou R$ 3,00”, ou seja, um aumento entre 10% e 20%. É preciso esclarecer à sociedade roraimense quais são os critérios usados para arbitrar tais aumentos e quanto de subsídio fica a cargo da Prefeitura, mas, além de tudo, é preciso melhorar e muito os serviços prestados à população.

*Originalmente publicado em 30/03/11 no http://baianonarede.zip.net