A maioria dos cargos do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que “pertenciam” ao PR já foi “tomada” pelo governo desde que estourou o escândalo no Ministério dos Transportes, começando com a queda do então titular da pasta, o ex-ministro Alfredo Nascimento. Todos os que foram demitidos haviam sido indicados pelo secretário-geral do partido, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto. O diretor de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, único petista da cúpula do Dnit, pediu demissão hoje. Tudo indica que Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do órgão, oficialmente em férias, também fará o mesmo ainda hoje. Pelo andar da carruagem, a faxina determinada por Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes ainda não acabou.
Enquanto a presidente parece querer “extirpar” o mal, exonerando membros do PR que até então ocupavam órgãos do MT, alguns correligionários da base aliada e até mesmo Lula demonstram preocupação com a forma como as demissões têm sido conduzidas. Os primeiros reclamam que têm sido humilhantes os afastamentos a “conta-gotas”, conforme declarou esta semana o vice-líder do governo na Câmara, Luciano Castro (PR/RR). Já o ex-presidente não concorda com a “impaciência” com que Dilma tem tratado os envolvidos no escândalo e argumenta que isso pode trazer prejuízos políticos para ela, pois o partido promete retaliações.
Alguns setores da imprensa dirão que, enquanto Lula era mais tolerante com os casos de corrupção no seu governo e costumava afagar os acusados, sempre negando ter conhecimento sobre o que se passava debaixo de seu nariz, outros defenderão que Dilma tem agido corretamente ao começar a punir corruptos de forma rápida, ao contrário do que ocorreu em relação ao ex-ministro Antonio Palocci, cuja demissão aconteceu quase um mês depois de surgidas as primeiras denúncias sobre a “multiplicação” extraordinária de seu patrimônio.
Na verdade, ainda que seja lugar-comum afirmar isso, as aparências enganam. Dilma esteve, nos últimos anos, ao lado do ex-presidente e teve cargos importantes durante seu governo. Foi ministra de Minas e Energia e depois ocupou a estratégica chefia da Casa Civil, onde ficou conhecida pelo pulso firme e maneira centralizadora de conduzir a pasta. Sabe-se que ela delegava funções, mas fazia questão de estar a par de tudo que acontecia sob o seu comando. Ainda assim, não ficou livre das falcatruas em que se envolveu seu “ex-braço-direito” Erenice Guerra, quando esta assumiu a Casa Civil após a saída de Dilma para disputar a presidência em 2010.
Ainda à frente da Casa Civil no governo anterior, Dilma começou a ser “trabalhada” como possível sucessora de Lula. Foi idealizada como a “mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento) e criou-se a imagem da “gerentona osso duro de roer”, candidata perfeita para dar continuidade ao sonho de poder do metalúrgico que fora alçado à condição de “pai dos pobres e oprimidos”. A inexperiência política de Dilma e as suas dificuldades em contornar crises todos nós já conhecíamos, o que ficou demonstrado nos seis primeiros meses de seu governo. Comprovou-se que a criatura não fora muito bem talhada pelo criador. Sabe-se que ela tem aversão ao “jogo político”, interessando-lhe mais a parte gerencial do cargo que ora ocupa.
Talvez isso explique a “pressa” em demitir todos os funcionários do Dnit ligados ao PR, e não uma suposta intolerância da presidente com a corrupção que se instalou no MT, afinal de contas ela e Lula foram formados na mesma escola e são do mesmo partido. Com a sutil diferença de que o ex-presidente não demonstra pudor ao tornar público seu modo de “fazer política”, aliando-se a quem quer que seja e buscando apoio irrestrito a qualquer custo para os seus “projetos”, não importando os meios utilizados e se os atuais aliados, a exemplo de Sarney e Collor, já foram, um dia, seus inimigos políticos. Dilma sabe, há muito tempo, como tudo acontece nos bastidores do poder, mas não tem “cacife”, jogo de cintura e nem força política para tratar diretamente de determinados “acordos” que lhe garantam a governabilidade.
Porém, um recuo a essa altura do campeonato deixaria a presidente em maus lençóis, pois além de ter uma base aliada fragmentada após a crise, a sua imagem diante da opinião pública sairia arranhada. Portanto, ela sabe ser necessário levar adiante a “faxina” (não apenas no Ministério dos Transportes), não cedendo às pressões do PR que agora ameaça deixar a base aliada e faz chantagens ao Planalto. Manter-se firme na limpeza seria uma garantia de que, ao menos, teria a simpatia e o apoio da população.
É, no mínimo, engraçado ver um partido atolado em corrupção exigindo uma “lealdade” que nem os honestos costumam cobrar abertamente. Os membros do PR se dizem “indignados” com a forma como seus apadrinhados foram demitidos e cobram da presidente um “tratamento adequado”, numa clara demonstração de que, em se tratando de política e milhões de reais em jogo, a cara-de-pau e a falta de limites são a marca registrada dessa turma.