Depois de um mês sem atualizar este blog, constato que os assuntos em pauta no mundo político continuam os mesmos, só que cada vez mais recrudescidos, além de acelerados. O pessimismo toma conta e, pelo andar da carruagem, o cenário será o mesmo daqui a um mês ou dois anos. Continuarão pipocando as denúncias de corrupção, sejam elas nos Ministérios de Dilma Rousseff ou, simplesmente, onde houver um político brasileiro. Teremos notícias sobre o notório mau-caratismo da classe política, as intromissões do ex-presidente Lula no governo de sua sucessora e a eterna cara de pau do presidente do Senado, José Sarney.
Em pouco mais de um semestre, o governo Dilma ecoou aquilo que, erroneamente, chamamos de “herança maldita”. Assumo que tal classificação é rasa, pois não podemos nos esquecer que estamos sob a continuidade do lulo-petismo, aquela forma de governo em que, em nome de uma suposta governabilidade e da famigerada coalizão, todos os meios ilícitos são permitidos, toda a corrupção é aceita e todas as mentiras se tornam “verdade” segundo o manual de conduta de Lula e seus asseclas, que se instalaram no poder (ainda que democraticamente) e insistem em não “largar o osso” (algo nada republicano).
Ministros do atual governo, umbilicalmente ligados à Lula, foram demitidos por Dilma Rousseff. O primeiro foi Antonio Palocci, ex-ministro da Casa Civil, demitido em junho, depois de não ter conseguido explicar a origem de seu patrimônio astronômico e as suspeitas de sua atuação como lobista. Em seguida, Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes, foi afastado do cargo (e quase toda a cúpula do Ministério) sob suspeita de um esquema de superfaturamento em obras públicas e recebimento de propinas de empreiteiras.
Nelson Jobim, que também foi ministro do governo Lula, assim como Nascimento e Palocci, foi demitido no começo deste mês após as repercussões de sua entrevista à revista Piauí, em que criticava as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil. Como se sabe, as constantes declarações de Jobim, muito antes da reportagem da Piauí, já sinalizavam sua insatisfação com o governo Dilma, tendo até declarado que nas eleições de 2010 seu candidato foi José Serra.
Antes das demissões, houve uma “arrumação” entre dois Ministérios. Luiz Sérgio, que era ministro das Relações Institucionais, deu lugar à Ideli Salvatti, ex-ministra da Pesca e Aquicultura, pasta agora ocupada pelo ex-articulador político. Considerado fraco e sem expressão até mesmo entre os partidos aliados, Luiz Sérgio foi para um ministério apagado. Salvatti, por sua vez, ocupa agora uma área “delicada” para o governo, a despeito de toda sua indelicadeza e destempero quando senadora, época em que era umas das mais veementes defensoras do governo Lula.
Na semana passada, foi a vez de Wagner Rossi, até então ministro da Agricultura, sair do governo. Rossi “pediu” demissão após ter sido envolvido em denúncias de corrupção, a exemplo de licitações fraudulentas e pagamento de propina. As acusações começaram depois que o ex-diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, foi demitido. Ele saiu afirmando que havia “bandidos” no órgão ao qual pertencia e insinuou que o ex-ministro fazia parte dos esquemas de corrupção.
Ainda estão na berlinda, além de Ideli Salvatti, os ministros da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e do Turismo, Pedro Novais, cuja pasta está sob investigação da Polícia Federal por suspeita de desvios de recursos públicos. Foram expedidos 38 mandados de prisão e, dentre os que foram presos, estava Frederico Silva da Costa, que ocupava o segundo cargo mais importante do Ministério.
Segundo a revista Veja revelou em junho, Salvatti e Mercadante são acusados de comandar um esquema de elaboração de dossiês contra o candidato tucano José Serra nas eleições de 2006, que ficou conhecido como o “escândalo dos aloprados”. Desde que surgiram as primeiras denúncias contra a dupla, os aliados do governo têm feito de tudo para abafar o caso. Quais serão os próximos Ministérios envolvidos em escândalos? Quem serão os próximos demitidos?
A despeito da pretensa “faxina” e do combate à corrupção atribuídos à Dilma Rousseff, o que tem vindo à tona nos últimos meses é resultado direto da forma promíscua de governar de seu antecessor. Onde estava essa suposta “veia combativa” quando ela ocupou o principal Ministério (Casa Civil) no governo Lula? Todos dizem que a presidente sempre agiu com mãos de ferro e todas as decisões referentes àquela pasta eram avalizadas por ela e nada passava despercebido sob seu atento olhar de “gerentona”.
Sendo assim, o que podemos deduzir: Dilma sabia dos escândalos que se arrastam desde a era lulista e simplesmente fechou os olhos, sendo cúmplice da forma despudorada de governar do seu ex-chefe ou o “companheiro” era tão hábil nas negociações e negociatas que não levantava suspeitas nem entre os mais próximos? Para mim, pesa mais a primeira hipótese.
Como se sabe, Dilma nunca foi muito afeita ao jogo político, às negociações entre partidos, e isso se mostrou evidente já nos primeiros meses de seu governo. Agora, “vítima” das armadilhas e armações do poder, bate de frente com aqueles que lhe juraram apoio em troca das habituais vantagens e favores que “garantem a governabilidade”. Não sabemos ao certo se lhe aflorou uma forte vontade de pôr o governo nos eixos e se livrar de todas as ratazanas que se apossam do bem público como se privativo fosse, ou se ainda lhe falta “jogo de cintura” para lidar com essas criaturas.
Em meio aos escândalos dos últimos tempos e às consequentes demissões, perambulam os fantasmas de José Sarney e de Lula da Silva. Eles estão constantemente na mídia, dando suas “preciosas” opiniões sobre tudo, usando a “régua da moral” que eles bem entendem para analisar e medir os casos mais escabrosos de corrupção. É incrível como esses senhores relativizam a podridão no mundo político, dando-lhe uma leveza que só os profissionais das maracutaias conseguem.
Sarney é a representação máxima do que há de mais atrasado na política nacional e usa o Estado como se fosse o quintal de sua casa. Ontem, reportagem da Folha de São Paulo informou que o presidente do Senado usou helicóptero da Polícia Militar do Maranhão, governado por sua filha, para fins particulares. Questionado sobre o fato, ele disse que isso não prejudicou ninguém. Sabe-se que, enquanto as malas do “rei do Maranhão” estavam sendo descarregadas da aeronave, um paciente com traumatismo craniano teve que aguardar para ser atendido.
Lula, ao contrário do que prometeu, até hoje não “desencarnou” da Presidência e, volta e meia, dá palpites e se mete nas coisas do governo de sua sucessora, como se autoridade ainda fosse. Ainda hoje, a mesma Folha de São Paulo informa que o ex-presidente despachou ontem com dois subordinados de Dilma: Fernando Haddad, ministro da Educação, e Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Segundo a reportagem, o ex-presidente queria explicações sobre o piso nacional do magistério, cuja legislação foi promulgada em seu governo. Antes de sair da Presidência (ao menos, oficialmente), Lula mandava recados aos seus opositores, especialmente ao seu antecessor, Fernando Henrique, de que ensinaria como um ex-presidente deve se comportar. Vemos, cada vez mais, que ele está a anos-luz de ser bom exemplo, seja lá qual for a situação.
Enquanto políticos da estirpe de Lula e Sarney estiverem dando as cartas, não haverá “faxina” que tire o País do “empacamento” em que se encontra e a tal governabilidade só será garantida com as famigeradas trocas de favores, caminho fácil para corrupção e roubalheira desenfreadas. Ainda veremos muitos escândalos e muitos tentando colocá-los para debaixo do tapete. É desoladora a sensação de que não haverá “faxina” que dê jeito enquanto tivermos incrustado no nosso DNA a veia do mau-caratismo e da passividade ante os escândalos que nos acometem desde os tempos do Brasil Colônia.