Arquivo de abril, 2011

1. Publicar aquela “puta história” antes de qualquer outro jornalista.

2. Pegar o jornal do dia e ver o seu nome estampado na capa.

3. Mostrar o seu nome estampado na capa para o vizinho invejoso.

4. Entrevistar aquele cara que odeia falar com a imprensa depois de três meses de insistência.

5. Acabar a matéria a 1 minuto e 37 segundos do fechamento.

6. Saber que a(o) nova(o) estagiária(o) gostosa(o) vai trabalhar ao seu lado.

7. Desligar o computador após um longo dia de ralação.

8. Pagar todas as contas do mês sem atraso.

9. Ter qualquer credencial pendurada no pescoço.

10. Ter a pergunta elogiada pelo entrevistado numa coletiva de imprensa.

11. Receber o pagamento de um frila no dia combinado.

12. Comer pra caramba numa boca-livre chique e ainda deixar o local com uma quentinha.

13. Descobrir que vai folgar justamente no fim de semana da tão esperada viagem com os amigos.

14. Ser rendido por um colega após 12 horas de plantão na porta de um hospital.

15. Ter a confirmação de que seu nome não está na lista do passaralho da vez.

16. Escutar de um leigo: “Deve ser o máximo ser jornalista, hein?”.

17. Saber que o doutor Gilmar Mendes foi assaltado.

18. Chegar em casa às 5 da manhã depois de um pescoção e encontrar sua mulher sozinha na cama.

19. Chegar em casa às 5 da manhã depois de um pescoção e conseguir fazer sexo.

20. Ouvir do editor: “Parabéns, você está contratado. Pode começar agora?”.

*Texto de Duda Rangel, publicado no blog Desilusões Perdidas, em 13/04/11 (http://desilusoesperdidas.blogspot.com)

Raio X da Saúde*

Publicado: 12/04/2011 em Cotidiano

A precariedade da Saúde em Roraima não se restringe ao mau atendimento (público e privado), mas passa por um momento crítico envolvendo denúncias de corrupção (vide Operação Mácula), falta de medicamentos e de material, além do mau estado de conservação da infra-estrutura hospitalar. O número de pacientes, segundo as autoridades, supera o esperado, já que muitas pessoas procuram atendimento sem necessidade imediata, por se tratar de casos a ser assistidos, a princípio, em postos de saúde distribuídos pela capital e municípios.
Acontece que a informação é escassa, os postos nem sempre funcionam a contento e a incapacidade de responder a um aumento da demanda, e como supri-la, atesta o descaso com a administração do sistema de saúde. Como não prever que a cidade e o Estado teriam um aumento populacional? Uma nota recente da Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) sinaliza a necessidade de “rediscutir a oferta dos serviços oferecidos à população em todos os níveis. Trabalhar a medicina preventiva talvez seja um dos caminhos a ser percorrido.”
A “rediscussão” seria uma resposta ao fato de Roraima ser um dos Estados da Região Norte que mais cresceu em termos populacionais. Por que ao invés de “rediscutir”, as autoridades do Estado não criaram bases e formas de se prevenir o que, como conseqüência natural, acabaria por acontecer? Crescimento populacional se dá em todo canto, com a diferença de que em alguns lugares há planejamento e em outros não. Estados e cidades pequenos, novos e com baixa densidade populacional são, naturalmente, chamarizes para migrantes e investidores, sendo considerados “promissores”, alguns até “eldorados”.
Nas últimas semanas temos sido bombardeados por denúncias que afetam o sistema estadual de Saúde. Não demora muito, chegaremos à “grande mídia”, mais uma vez levados por escândalos. Falsificação de notas fiscais, vício em licitações, peculato, superfaturamento de medicamentos e produtos médico-hospitalares, simulação de entrega de medicamentos e equipamentos e, no ano passado, flagrante de descarte irregular de medicamentos dentro do prazo de validade. Especula-se que o rombo nos cofres públicos chegue a R$ 30 milhões! E a saúde em frangalhos…
Mas, sejamos justos: investimento em saúde pública, no geral, é baixo em todo o País. Um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgado ano passado aponta que o Brasil aplicou apenas 5,4% do PIB no setor, o que nos coloca na 169ª posição entre 198 países. Estamos mais próximos de Angola do que da Alemanha, Suíça e Estados Unidos. Com investimento de 13,9% até a Argentina nos supera, ficando em 54º lugar. Apesar do orçamento do Ministério da Saúde para este ano ser de R$ 77 bilhões (o maior valor desde 1995, segundo o site Contas Abertas), a falta de planejamento e de fiscalização dos gastos são empecilhos para a correta aplicação de recursos.
Uma das formas de se controlar os gastos e cobrar a devida aplicação de recursos seria a regulamentação da Emenda Constitucional nº. 29, que define o quanto as três esferas (Governo Federal, Estados e municípios) devem dispor para investimento em saúde. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) tem isso como prioridade e um dos argumentos é que a regulamentação da EC nº. 29, dentre outras coisas, evitaria a maquiagem dos gastos públicos.
Um dos maiores entraves são os Estados que, para alcançar a cota de 12% em investimento no setor, incluem até despesas com saneamento e pagamento de pensionistas. O projeto de regulamentação da Emenda, incluindo as mudanças, foi aprovado pelo Senado e está parado na Câmara desde 2008. Burocracia e interesses não tão republicanos emperram o desenvolvimento do País e acabam por contaminar, em cascata, as demais esferas do poder público.
Alguns irão dizer: ora, segundo dados do Ministério da Saúde, Roraima está entre os estados que mais investiram em saúde nos últimos anos, ficando, inclusive, acima do mínimo de 12% exigido pela Constituição Federal. Percentualmente, foram 14,52% em 2008, o que corresponde a R$ 174 milhões. Então, para onde estão indo os recursos? Como estão sendo aplicados? Ou, simplesmente, estão parados? Por que tantas reclamações por parte da população? Será que estamos nos queixando de “barriga cheia”?
O Plano Estadual de Saúde do Estado de Roraima 2010-2011 é um “documento que expressa a situação da Saúde no Estado e define as políticas públicas e compromisso da SES (sic) com relação à saúde da população roraimense, sendo a base para a execução, monitoramento e avaliação da gestão do sistema de saúde”. É o que lemos na apresentação do Plano. Lemos, também, o que se segue:
“No âmbito do Sistema Único de Saúde, o planejamento é um instrumento estratégico de gestão, mediante o qual cada esfera do governo deve se valer para a observância dos princípios e o cumprimento das diretrizes operacionais que norteiam o SUS. Neste sentido, o desenvolvimento e a operacionalização oportuna do processo de planejamento devem ser preocupação constante dos gestores e dos profissionais do SUS. Num contexto social, político e econômico, o planejamento passou a ser tratado como importante mecanismo para conferir eficiência à gestão descentralizada, funcionalidade das pactuações e emprego estratégico de recursos. Um potente instrumento que colabora, plena e efetivamente, para o funcionamento sustentado do Sistema Único de Saúde. A Secretaria Estadual de Saúde realizou em abril de 2009, um diagnóstico situacional do Perfil da área de Planejamento das Secretarias Municipais de Saúde dos municípios de Alto Alegre, Amajari, Bonfim, Cantá, Caroebe, Caracaraí, Iracema, Mucajaí, Normandia, Pacaraima, Rorainópolis, São João da Baliza, São Luiz e Uiramutã do estado de Roraima, na tentativa de levantar as dificuldades que impedem o avanço da descentralização de gestão nos municípios de Roraima, entre outras evidenciou as seguintes informações:
A maioria das respostas fornecidas pelas Secretarias Municipais de Saúde com 71,4%, não possuem Organograma Formal e 28,6% tem organograma informal, mas não apresentam unidades de planejamento como parte da estrutura formal, o único município (Mucajaí) que contempla a área de planejamento, não possui pessoal especificamente alocado nas atividades de planejamento.
A grande maioria das Secretarias Municipais de Saúde, não utilizam dos instrumentos de planejamento e aqueles existentes não foram encontrados em seus arquivos (os Secretários tinham assumido o cargo recentemente). Quanto ao documento de adesão ao pacto pela Saúde (TCGM) tramitado em CIB, foi verificado ausência de instrumento para acompanhamento do resultado dos indicadores. Na Secretária Estadual de Saúde não constam os instrumentos de planejamento e gestão como: Plano Estadual de Saúde, Programação Anual de Saúde e instrumentos para monitoramento e avaliação dos indicadores e responsabilidades firmadas na adesão do Pacto pela saúde.
… No estado de Roraima, no tocante ao planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária, o que dificulta o exercício eficiente e efetivo da descentralização de gestão e funcionalidade das pactuações…
A Secretaria Estadual de Saúde foi instituída por meio do Decreto Nº. 158, de 1º de novembro de 1991, atendendo assim as tendências da época, entretanto, transcorridas quase duas décadas, vivenciamos atualmente um cenário mais complexo que exigiu adequação da Estrutura Organizacional com finalidade de atender as especificidades regionais voltadas à saúde, valorização dos servidores que atuam na área de coordenador, diretor, gerente ou equivalente, para garantir à população a melhoria dos serviços ofertados.”

Concluindo:

Fica registrado, então, que os problemas já foram diagnosticados pelas autoridades, estão sendo sentidos na pele pela população e tem-se a intenção de se escolher um caminho para acertar os passos. Entretanto, não se sabe ao certo qual “remédio” deverá ser usado e em qual medida, se em doses homeopáticas ou cavalares.
Uma sugestão, entre tantas outras que já devem ter sido dadas por aí: é válido conferir o documento “Critérios para Análise de Investimentos em Saúde”, da Diretoria de Investimentos e Projetos Estratégicos vinculada à Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde. Destaco aqui um trecho: “a racionalização dos investimentos, a focalização das políticas públicas e o custo-efetividade das ações governamentais refletem mudanças legais e operacionais necessárias para o desenvolvimento do setor Saúde”.

*Originalmente publicado em 08/04/11 no http://baianonarede.zip.net

A ocorrência de tragédias sempre traz à baila opiniões as mais diversas, inclusive dos ditos “especialistas” de plantão nos telejornais de todas as emissoras. São psicólogos, psiquiatras, peritos criminais, sociólogos, etc. que tentam desenhar o perfil de um assassino, os motivos que o levaram a cometer o crime, levantam informações sobre o comportamento dele e sobre o passado, além do relacionamento com parentes, vizinhos e amigos. Tudo mais do mesmo.
Além das obviedades dos “especialistas”, há uma profusão de reportagens que levantam, quase sempre, as mesmas questões e soltam frases e perguntas cujas respostas já vêm à cabeça do telespectador antes mesmo que o entrevistado as responda. Muitas são tão tolinhas que nos fazem mudar de canal ou desligar a TV.
Ao tratar do massacre ocorrido ontem em uma escola municipal do Rio de Janeiro, onde 12 crianças foram assassinadas e outras tantas ficaram feridas, muitas em estado grave, alguns telejornais destacaram informações que nos parecem óbvias e nos dão a impressão que lá estão apenas para “tapar buracos”: “a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura) repudia o massacre de crianças ocorrido em uma escola do Rio” – creio que isso é mais do que esperado, não?!; “os pais estão chocados” – ora, claro que estão, no mínimo; “o assassino agiu com frieza” – ah, não me digam!; “o policial que atirou no matador foi um ‘herói’” – ele não estava apenas cumprindo seu dever?!.
As comparações aos massacres que ocorreram em escolas e universidades dos Estados Unidos, Alemanha e outros países também serão inevitáveis, repetidas inúmeras vezes nos telejornais e, além de tudo, vozes se levantarão argumentando a urgente necessidade de desarmamento da população. Outros dirão que falta investimento maciço em segurança pública e que a corrupção é um câncer no meio policial, o que atrapalha a eficiência daqueles que deveriam zelar pela população.
É notório que desarmamento pode até reduzir os índices de violência, mas vale lembrar que não basta desarmar apenas os “cidadãos de bem”, mas, principalmente, os bandidos. Lembremos que em 2005 houve um referendo no Brasil sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, que levantava a seguinte questão: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”.
O resultado final foi pouco mais de 59 mil votos rejeitando a proposta e aproximadamente 33 mil a favor. Apesar da retirada do artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826, de 23 de dezembro de 2003), que “proibia a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no artigo 6º desta Lei”, a comercialização continuou da mesma maneira. O porte de arma continua ilegal, excetuando-se alguns casos. O cidadão comum se quiser ter uma arma deverá mantê-la em casa, registrá-la no momento da compra e não poderá ser considerado pertencente a um grupo de “risco”.
Vejam que se trata de uma tentativa de proibir a “comercialização legal”. Mas, o que tem sido feito para coibir o contrabando, a entrada ilegal de armas e munições vindas principalmente de países que fazem fronteira com o Brasil (Paraguai, por exemplo), além do desvio de armamento exclusivo das Forças Armadas, como vemos costumeiramente noticiado? Aparentemente, pouca coisa. E como explicar, apesar da tentativa de controle da venda e uso, o recrudescimento da violência no Nordeste do País e uma diminuição no registro de violência, sobretudo com armas de fogo, em estados da Região Sudeste? Certamente, um dos fatores preponderantes é o investimento em segurança pública e inteligência policial, o que tem ocorrido em estados como Rio e São Paulo, ao contrário do desleixo e baixo investimento em segurança pública vistos no Nordeste.
Voltando ao massacre:
As especulações e análises são várias, mas é praticamente impossível prever e se prevenir de algo tão horrível como o massacre ocorrido ontem. É lamentável, mas de fácil constatação: ninguém pode prever que, de uma hora para outra, um louco qualquer ou como queiram classificar, pegue uma arma e entre atirando em lugares repletos de pessoas indefesas. Se, por acaso, houvesse uma descoberta ou indícios que levassem a detectar que um planejamento para tal atrocidade estava em curso, sem sombra de dúvida muito poderia ter sido feito, inclusive ter-se evitado uma tragédia.
A ação é imprevisível e isso, por si só, já exclui possibilidade de reação ou impedimento de um ataque como esse. Muitos falaram em policiamento reforçado nas escolas e outras sugestões consequentemente sem efeitos. Só para lembrar: o homem que lá esteve e atirou contra as crianças havia estudado durante nove anos naquela instituição e entrou facilmente, pois, segundo informações da própria diretoria, ele ministraria uma palestra. Era, então, a despeito de seu comportamento social (certamente desconhecido pelo corpo docente), um homem acima de qualquer suspeita.
Poderia haver dezenas de policiais na porta da escola, mas isso teoricamente só evitaria que o massacre fosse maior, não que o assassino entrasse (sendo acima de qualquer suspeita) ali ou em qualquer outro lugar. Detectores de metais o impediriam? Sim, concordo, poderiam impedir. Assim como em qualquer outro lugar. Mas, também, em qualquer outro lugar, qualquer um pode agir, a qualquer momento, da mesma forma: no local de trabalho, em uma festa ao ar livre, em uma igreja e tantos outros lugares. O que se deve deixar claro é que a imprevisibilidade de ações como a de ontem não podem ser colocadas no mesmo patamar de outros crimes que nos acometem diariamente por falta de segurança pública, tais como tráfico de drogas, assaltos, roubos, etc.
Os fatos não devem ser deturpados e cada coisa deve ser posta em seu lugar. O que percebemos é um desvio de foco e muitos discursos impensados, alguns até previamente preparados, que tentam simplificar a discussão sobre segurança pública e nos levar a crer que as supostas ações e reações governamentais estão no caminho certo, quando, na verdade, ainda nem se “encontraram”.

*Originalmente publicado em 08/04/11 no http://baianonarede.zip.net

Atraso*

Publicado: 12/04/2011 em Cotidiano, Economia

Uma das cidades com a menor população do País (277.684 habitantes, de acordo com Censo 2010, IBGE), Boa Vista ainda caminha a passos lentos para tentar alcançar uma posição de destaque no cenário nacional, a exemplo de outras capitais, inclusive da Região Norte, como Belém e Manaus. Ter amor ou paixão pela terra não pode esvaziar o debate quando se trata de apontar as mazelas que nos afligem, nem tampouco servir de argumento para ignorar os fatos que aí estão. Sem dúvida, somos “esquecidos” e quando aparecemos nos telejornais do eixo Rio – São Paulo (a grande imprensa, dirão alguns), as más notícias é que nos levam até lá.
Penamos com maus governantes e os nossos ditos “representantes legais”, somos vítimas do mau-atendimento e até do desprezo de empresas que aqui se instalam; além disso, o “desconhecimento” geográfico volta e meia nos “coloca” em lugares indevidos no mapa (é comum a confusão entre Roraima e Rondônia). Ainda há muito que se fazer, mas é preciso parar com o pensamento de que ainda somos um Estado “recém-criado”, como se isso explicasse parte do atraso em que nos encontramos.
Habitada por gente de quase todo o Brasil, poderíamos dizer que esse “caldeirão cultural” nos aproximaria dos grandes centros urbanos, mas, por enquanto, apenas nos assemelhamos, em certos aspectos, a uma cidadezinha do interior de tempos antigos, principalmente no que se refere à prestação de serviços e à nossa velha política (não que nesse ponto se difira muito do resto do País, mas aqui parecem ser mais intensos o clientelismo e o coronelismo que tanto a caracterizam).
Algumas coisas nos fazem lembrar constantemente do nosso atraso, e a conexão a internet é uma delas. As interrupções são constantes, a lentidão idem, tanto faz se você tem um modem de última geração ou tenta se conectar através da “banda larga” usada em casa. O serviço é falho e não discrimina classe social ou valor de assinatura de pacote. O mesmo mau serviço é visto nas lojas de atendimento, nos bares e restaurantes da cidade (assunto para outro post).
A operadora responsável pela banda larga em Boa Vista não atende a todos os bairros e usa um leque variado de desculpas para tentar justificar porque ainda não ampliou o serviço. Para completar, a mesma empresa deixa a desejar quando se trata de telefonia móvel celular. As outras operadoras também pecam, tanto no serviço móvel quanto na conexão 3G.
Inúmeras promessas de melhoria foram feitas, mas até para entrar no Plano Nacional de Banda Larga, do Governo Federal, Roraima teve dificuldades. Segundo o Ministério das Comunicações, a meta do PNLB é levar banda larga por um preço acessível a todos os municípios do Brasil, mas, até então, a falta de uma rede de fibras óticas era apontada como obstáculo para contemplar o Estado com internet rápida.
Segundo Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, esse problema será resolvido através das linhas de transmissão de energia da Venezuela usadas pela Eletronorte. Ele ainda afirmou ter assinado um ”protocolo de intenções” com a Argentina e que há negociações com o Paraguai sobre uma possível interligação das redes de fibra ótica dos países sul-americanos.
Enquanto isso nos resta esperar e admirar, como já ilustraram algumas reportagens, cidadezinhas com menos de 100.000 habitantes (em Minas Gerais e São Paulo, por exemplo) que oferecem, gratuitamente, internet wi-fi aos seus moradores e onde a banda larga já é tão comum quanto banana na feira. Aqui, por enquanto, só “bananas” nos são dadas e o desrespeito ao cliente parece ser cláusula pétrea nas cartilhas do (mau) atendimento e nos contratos das empresas de telecomunicações. Até quando?!

*Originalmente publicado em 1º/04/11 no http://baianonarede.zip.net

Estado violência*

Publicado: 12/04/2011 em Cotidiano

Segundo dados do Mapa da Violência 2010, Roraima tem um dos menores índices de violência do Brasil. Porém, a cada dia, constatamos que a fórmula “baixa densidade populacional x baixo índice de violência” já não é regra (se é que já foi algum dia). A realidade vivida pela população roraimense, principalmente nas áreas periféricas, põe em xeque o tom pacifista adotado por autoridades que tentam “maquiar” os fatos. Não se pode mais imaginar que Roraima, em particular sua capital, seja um lugar onde os moradores fiquem despreocupados ao manter portas e janelas abertas, carros com alarmes desligados e vida boêmia.
Boa Vista já não goza da calmaria de outrora e os casos de violência recrudescem, permeados pela freqüência de crimes diários e pela variedade de tipos registrados nos boletins de ocorrência (isso quando há registros!). Cai por terra, então, a idéia de “cidade pequena, paz garantida”.
Os jornais locais estampam, em suas primeiras páginas, casos os mais diversos de violência (desconsidere-se aqui a discussão de que isso vende mais). É o reflexo da situação econômico-financeira em que se encontra o Estado, da falta de infraestrutura e do abandono das instituições que deveriam zelar pela segurança pública. Os maus exemplos “de fora” não foram vistos, ou simplesmente, foram ignorados, para que se evitassem os estragos causados pela negligência.
Uma relação direta e simples: se há efetivo policial suficiente, há policiamento ostensivo e, consequentemente, coibição de crimes; se há viaturas em boas condições e em número adequado, há patrulhamento eficiente e com resultados satisfatórios. Porém, se o contrário ocorre, a conseqüência é o que se vê diariamente: violência nos quatro cantos da cidade. Os discursos e explicações das autoridades também se repetem, são quase idênticos, de Norte a Sul do País.
De acordo com estudo realizado por Valdomiro Paulo Berté, militar e estudante do curso de Bacharelado em Segurança Pública da Universidade Estadual de Roraima (UERR), “as Organizações Policias Militares do Estado de Roraima apresentam, em média, efetivo existente abaixo de 40% do previsto, acarretando a perda da sua capacidade operacional e impossibilitando-as de cumprir com a previsão constitucional (policiamento preventivo)”.
Ainda segundo Berté, com efetivo deficitário, resta à Polícia Militar realizar o patrulhamento, principalmente quando já acionada para alguma ocorrência. Talvez por comedimento ou pelo cargo que ocupa, ele não informa diretamente (sim, às vezes é preciso ser direto, principalmente para aqueles que fingem não entender) que a falta de combustível e manutenção das viaturas, dentre outras dificuldades, como volta e meia a imprensa local noticia, compromete, inclusive, o patrulhamento, muitas vezes deixando de atender ocorrências básicas.
Antes que nos tornemos vítimas apáticas da violência e percamos a capacidade de reagir, de contestar e até protestar, devemos atentar para o que mostram os fatos: violência é violência aqui ou em qualquer outro lugar. Deve ser combatida com inteligência e rigor, sem delírios de quem tenta maquiar os dados, achando que os crimes daqui são diferentes dos praticados em regiões mais populosas e os criminosos que aqui estão são “amadores”. São bandidos, criminosos, infratores e assim devem ser tratados, respeitando-se, claro, a legalidade das ações repressoras e punitivas.
Não podemos esperar que a criminalidade em Boa Vista chegue ao patamar de cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Belém e tantas outras. Combater o crime agora nos livrará da disseminação e incrustação da violência em nossa cidade e nossas autoridades não precisarão “quebrar” a cabeça, em um futuro próximo, tentando implantar “polícias pacificadoras” ou similares em lugares que, porventura, tenha se deixado de investir em prevenção.

*Originalmente publicado em 30/03/11 no http://baianonarede.zip.net

Imagem é tudo!*

Publicado: 12/04/2011 em Cotidiano

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada ontem, 30, mostra que a polícia brasileira não passa uma boa imagem à maioria dos brasileiros. O Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) sobre segurança pública 2010 aponta que em nenhuma região do País mais do que 6% da população diz confiar muito no trabalho da polícia.
Foram quatro os níveis pesquisados: não confia, confia pouco, confia e confia muito. Apesar de ter reduzido os índices de violência nos últimos anos, capitaneada por São Paulo e Rio de Janeiro, na região Sudeste apenas 3% disseram confiar muito nas entidades. Já 30,05% afirmaram não confiar na atuação das polícias e 66,95% não confiam ou confiam pouco.
A região com o maior índice de alta confiabilidade é o Nordeste (5,8%), porém lá é que está a pior avaliação para o atendimento policial no Brasil: de mil pessoas que precisaram acionar a polícia, 29,7% consideraram o atendimento ruim ou péssimo. Já o melhor índice foi na Região Sul: 22,8%.
Na Região Norte, somente 4,45% dos entrevistados afirmaram confirmar muito na atuação das polícias e apenas 354 por mil usuários aprovam o atendimento das instituições.
Ao serem questionados sobre a sensação de segurança e medo, 85,8% dos entrevistados na Região Nordeste disseram ter muito medo de serem assassinados, seguidos pelas regiões Norte e Sudeste com 78,4%. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2009, apontam que os estados da Região Norte registraram a maior média entre as taxas de homicídio doloso (29,5 homicídios dolosos/100 mil habitantes) do País.

*Originalmente publicado em 31/03/11 no http://baianonarede.zip.net

A propósito do início das discussões sobre um possível reajuste da tarifa de ônibus em Boa Vista, levanta-se mais uma vez a questão: como cobrar caro por um transporte deficitário, com ônibus precários, rotas e horário idem? Pagar R$ 2,00 para usar o sistema de transporte urbano não é compatível com o orçamento de muitas famílias que, muitas vezes, dependem única e exclusivamente da ajuda do Estado/municípios para ter o pão de cada dia à mesa.
Amparados sempre pela mesma história de que é inevitável o aumento do valor da passagem quando se tem aumento de combustível, empresários do setor de transportes lançam “mão pesada” e estipulam valores muitas vezes arbitrários. Não há cálculos, não há justificativas, apenas o pensamento de que os custos de manutenção e abastecimento dos veículos também se elevam automaticamente.
Conforme noticiado hoje, a empresa responsável pelo transporte coletivo em Boa Vista cogita um aumento de 12,5% na tarifa urbana. Cidades como São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre, registraram, respectivamente, variações de 7,53%, 6,29%, 5,04%, 2,94% e 1,22%. Ressalte-se que, algumas dessas cidades, reajustaram as tarifas sob protestos e depredações da população insatisfeita, principalmente estudantes.
Observe-se que naquelas cidades há malhas viárias mais complexas do que as boa-vistenses e variedade de empresas que ofertam esse tipo de serviço. A qualidade do transporte deixa a desejar em muitas dessas cidades, mas, em Boa Vista, os trechos percorridos diariamente pelos ônibus coletivos são relativamente curtos e não há atendimento a todos os bairros, o que deixa a desejar mais ainda.
Para suprir o déficit de ônibus coletivos, a população usa os “afamados” táxis-lotação, que também “pecam” quando o assunto é bom atendimento. São constantes as reclamações a respeito de motoristas que evitam determinadas rotas, andam em alta velocidade, não respeitam a sinalização, dentre outras infrações.
Ainda assim, o caos se instalaria na cidade entre aqueles que dependem de transporte coletivo em Boa Vista (ônibus e táxi-lotação), caso um dos dois sistemas deixasse de funcionar. Como não há muitas opções e todos precisam sair de casa, faz-se necessário o uso desse tipo de “serviço público”. A população torna-se refém da má qualidade, do custo elevado do transporte e do descaso das autoridades.
Na carona de um possível aumento da tarifa dos ônibus coletivos, o Sindicato dos Taxistas também cogita a possibilidade de elevar o valor da passagem dos táxis-lotação: passariam de R$ 2,50 para “R$ 2,75 ou R$ 3,00”, ou seja, um aumento entre 10% e 20%. É preciso esclarecer à sociedade roraimense quais são os critérios usados para arbitrar tais aumentos e quanto de subsídio fica a cargo da Prefeitura, mas, além de tudo, é preciso melhorar e muito os serviços prestados à população.

*Originalmente publicado em 30/03/11 no http://baianonarede.zip.net

Sem sombra de dúvida, é louvável a luta do ex-vice-presidente da República, José Alencar, morto ontem aos 79 anos. Apesar das adversidades, Alencar manteve o bom-humor e o otimismo durante os 14 anos em que travou batalha contra um câncer, submetendo-se a diversos tratamentos e cirurgias. 14 anos também foi a idade em que ele saiu de casa e, anos depois, montou seu primeiro negócio. Algumas décadas se passaram e Alencar se tornou um dos maiores empresários da indústria têxtil no Brasil.
Alencar, com o suor de seu trabalho e a despeito da posição política que alcançou (senador, em 1994, por Minas Gerais, e vice-presidente da República a partir de 2003 até 2010), tornou-se um homem de posses, rico, diga-se de passagem, de maneira também louvável. Essa história é digna de homenagens. Mas, há de se separar a história do homem de sucesso, do empresário rico, do político médio que foi. AQUI.
A sensatez nos convoca a abrir os olhos e a pôr os pés no chão. Não se pode comparar, como forçam alguns, o tratamento médico dispensado a José Alencar ao que é dado à maioria da população que depende, principalmente, do Sistema Único de Saúde. Ao pobre não é dada a faculdade de escolha dos melhores médicos e/ou hospitais (isso quando houver vagas disponíveis).
Todos nós sabemos do sucateamento da saúde pública no Brasil. Plausível seria se todos, independentemente de classe social, tivessem acesso a um sistema de saúde exemplar, eficiente e de qualidade. Sabemos também que o ex-vice-presidente pertencia a uma minoria e o que é considerado privilégio deveria ser a regra: saúde para todos, de forma igualitária e capitaneada pelo Estado.
Porém, o Brasil maltrata a maioria que não tem como pagar por educação, saúde, transporte e moradia de qualidade. Há uma inversão de valores, desvio de linhas de ação (e de verbas), o que gera efeito um efeito dominó em toda a sociedade, afinal, um país de pessoas doentes ou com saúde fragilizada, não produz mão-de-obra e nem “cérebro-de-obra” de qualidade. Sem contar as demais mazelas que saltam aos nossos olhos diariamente.
Como disse, a luta de Alencar é elogiável, mas há tantos outros lutando, inclusive contra o câncer, e sem as mínimas condições de tratamento, mas não são vistos nem homenageados, pois são simplesmente anônimos. Há muitos que sobrevivem por muitos anos também e, pasmem!, sem atendimento médico tão bom quanto o do ex-vice-presidente.
Se vivêssemos em um país justo, responsável e organizado, não estaríamos discutindo bom ou mau atendimento no sistema de saúde. Estaríamos, quiçá, exportando tecnologia nesse setor e prestando atendimento a outros países. Ademais, se justos e equânimes fôssemos, a saúde pública não seria só para os menos favorecidos financeiramente, mas se estenderia até aos que podem pagar por clínicas e hospitais caríssimos.

*Originalmente publicado em 30/03/2011 no http://baianonarede.zip.net

A salvação do Fantástico*

Publicado: 12/04/2011 em Cultura

Na cidade de Itajaí (SC), na BR 101, um funcionário de um posto de combustível costuma abordar os caminhoneiros para oferecer cocaína logo que eles se aproximam para “abastecer”. Ainda na mesma BR, em outro posto, o mesmo acontece. Segundo Ferraz, a venda de drogas é feita nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Alagoas. O que se percebe é que o frentista é um intermediário: um deles afirma que, após o serviço no posto de combustível, irá se encontrar com traficantes, pois três caminhoneiros já haviam encomendando cocaína.
Além de cocaína, crack e maconha são facilmente encontrados; o uso de “arrebite”, como se vê, já não é suficiente para deixar motoristas irresponsáveis “ligados” nas estradas. Muitos usam como desculpa o cumprimento de horários e as premiações para que se faça uso de entorpecentes; por outro lado, há caminhoneiros como Nilton Clemente Mina que, há mais de 28 anos nas estradas, diz nunca ter usado drogas nem tampouco se envolvido em acidentes.
Em Natal (RN), um servidor da Polícia Rodoviária Estadual aborda o carro usado pela equipe de reportagem e diz que vai aplicar multa por causa do uso de vidros escuros. Sem saber que está sendo filmado, o policial pede que o produtor o acompanhe até o posto, onde pede propina: R$ 15,00 (isso mesmo: R$ 15,00!) e ele livra o “infrator” da notificação.
Em outro trecho da reportagem, dessa vez no Ceará, o superintende da Polícia Rodoviária daquele estado, Ubiratan Roberto de Paula, fala para um grupo de policiais sobre a abordagem feita a um deputado federal que teve o carro apreendido e que teria ficado furioso. No vídeo, o superintendente aparece dizendo: “Isso vai repercutir lá dentro do Congresso Nacional, com o cidadão que tem direito a voz no Parlamento”. Segundo ele, os policias devem pensar duas vezes antes de multar políticos e empresários, chamados por ele de “parceiros”. Sem sombra de dúvidas, nesse caso a propina vai muito além de meros R$ 15,00! O nobre superintendente, de acordo com a reportagem, pediu demissão no dia 23 deste mês. Alegou problemas de saúde.
Em outro vídeo, o coordenador geral de operações da Polícia Rodoviária Federal disse a policiais em uma reunião ocorrida em novembro do ano passado: “A gente vive da política também. A gente vive dessa imagem, dessa imagem que, quem é especialista sabe, não resolve. O que resolve é a coisa paulatina, todo dia. Mas, para dar uma resposta à opinião pública, tem que fazer a firula. Então, estamos lá fazendo a firula com todo mundo”. Ao tentar se explicar, o coordenador afirmou que firula seria um jargão interno da PRF, tentando dar outro significado ao que os dicionários registram como “floreio”, “rodeio”. Depois de ter visto a reportagem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, exonerou o coordenador nacional de operações da Polícia Rodoviária Federal.
Além do consumo de drogas e dos policiais corruptos, ainda pesam sobre a nossa malha rodoviária a má conservação de estradas e o abandono e sucateamento de prédios que deveriam servir aos interesses do País. Os dez mil quilômetros foram feitos em 20 dias e a equipe de reportagem passou por 70 postos de fiscalização, sendo que alguns estavam abandonados. Como Maurício Ferraz afirmou, eles só foram abordados uma vez, mas nem houve fiscalização para saber se o caminhão estava carregado.

*Originalmente publicado em 29/03/11 no http://baianonarede.zip.net