Quando um Estado ou município dependem de decisões judiciais para afastar um mandatário ou alçar outro ao poder, alguma coisa parece estar errada. E quando o povo não sabe valorizar o seu voto e vive sob o constante suspense das análises jurídicas, liminares e recursos, que vão muito além do período eleitoral e se tornam uma espécie de “terceiro turno” sem prazo para acabar, percebemos que há falhas no sistema eleitoral, recheado de brechas que permitem os “vícios” do jogo do poder.
Vermelho, amarelo, roxo, rosa ou azul nada mais são do que símbolos, adotados individual ou coletivamente, para definir a “causa” e mostrar a todos “de que lado eu estou”, “em quem eu votei” e “quem me guarnece”. Há os que realmente são apaixonados pela causa, alguns muito lúcidos e que engrandecem o debate (quando há), primando pelo respeito ao adversário, às idéias contrárias e à rivalidade meramente político-partidária. Outros são vítimas de um tipo de paixão que cega, desrespeita e resvala para baixaria e ausência de idéias, onde a desqualificação do oponente e a ofensa são as armas preferidas. Fazem as apostas, mas se esquecem da compostura, das regras básicas da boa convivência.
Porém, para os desvalidos de informação e para os vitimados pela ignorância em sua forma mais bruta, as colorações partidárias dão lugar às sombras da incapacidade de raciocínio próprio e da falta de senso crítico, o que favorece a manutenção de um povo sob “cabresto” e inepto para fazer suas próprias escolhas, pois dependentes dos “pensamentos” alheios e das vontades de alguns.
Nessas circunstâncias, não importa se fulano, beltrano ou sicrano estão no poder porque representam a melhor opção. O que vale é o que essas “opções” podem trazer de benefícios a alguns, ainda que tantos outros permaneçam desassistidos porque o poder público lhes virou as costas. São desamparados pela parcialidade do Estado, pois é comum se esquecer que um governo democraticamente eleito é para todos e não para alguns. Eleitores de “A” e “B” vivem sob as mesmas regras e têm os mesmos direitos e deveres.
Os debates se esvaziaram e, em muitos casos, tornaram-se nonsense. Se instruídos fôssemos, as discussões se dariam em torno de idéias, de propostas. Se os candidatos, eleitos ou derrotados, agissem obedecendo ao rigor da lei, uma parte do tempo de mandato não seria perdida nos tribunais. Não teríamos tempo para ataques pessoais porque nossas atenções estariam, de fato, voltadas à coletividade.
Porém, o que se vê, é tal fragilidade eleitoral e política (e não me restrinjo à partidária) que atravanca o desenvolvimento de qualquer Estado, posto que amarrado a “tradições” dos tempos das Capitanias Hereditárias. Tudo parece um jogo de cartas (algumas vezes marcadas) em que o poder do “curinga” estará sempre ameaçado e seu valor mudará não por causa das possíveis “combinações” feitas pelos “parceiros de jogo”, e sim pelas “circunstâncias” decorrentes da aplicação imparcial das regras. Pelo menos, é o que se espera!