Solidariedade, na guerra ou na paz

Publicado: 08/06/2011 em Cotidiano

Enquanto a enchente do Rio Branco deixa pelo caminho destruição e tristes lembranças para milhares de pessoas, praticamente em todo o Estado, outras tantas visitam as áreas alagadas, tornando-se praticantes de uma nova espécie de “turismo”, o de tragédias. Os “turistas” chegam munidos de máquinas fotográficas, geralmente em grupos, e começam a registrar o “momento histórico”. Tudo muito próximo a casas submersas e moradores desabrigados que utilizam agora, como único meio de transporte, canoas para se locomover.

Há os que se esquecem da dor alheia e há os que se compadecem e ajudam, mesmo que não tenham condições. Colocam o bem-estar do próximo acima de qualquer vaidade. Estão à frente de campanhas de solidariedade, arrecadando alimentos e roupas para os desabrigados, doando dinheiro, ou simplesmente, um pouco de atenção a quem precisa em momentos como este, sem querer nada em troca. Essas pessoas não esperam pela iniciativa pública e fazem aquilo que está ao seu alcance, ou vão além dos próprios limites.

Como afirmei em um texto anterior (A conversa fiada sobre desastres naturais) e é sabido de todos, na carona da tragédia alheia há os que aproveitam para auferir vantagens econômicas e, principalmente, políticas. Organizam-se em grupos, comissões, gabinetes disso e daquilo, para mostrar que estão fazendo o que habitualmente não fazem: trabalhar. Sem contar a “premente” necessidade de visitar a base eleitoral para ver o “problema” mais de perto e assim levar a “ajuda” necessária.

Por que as vítimas da enchente não são assistidas quando deveriam sê-lo? Por que não há um esforço político concentrado para estudar a situação das pessoas que estão em área de risco e tomar providências antes que tragédias aconteçam? Será que esse atraso se deve às “discussões mais urgentes” que acontecem nas nossas casas legislativas e nos bastidores dos poderes executivos, que deixam de lado o interesse público e priorizam interesses escusos?

Seria de bom alvitre que, em tempos de “paz”, não nos esquecêssemos dos menos favorecidos e olhássemos para eles com o mesmo interesse de agora. A “guerra” de hoje também é um convite à reflexão para que, em tempos eleitorais e em momentos de decisão de tamanha importância, não nos rendamos às falsas promessas de quem não tem nenhum compromisso com o bem-estar daqueles que estão à margem da sociedade, tornando-se alvos fáceis das tragédias. O único valor que lhes atribuem é quando se negocia a compra de votos.

Além das questões político-partidárias, ainda somos convidados a refletir sobre o nosso relacionamento com a Natureza, a maneira como descartamos o lixo que produzimos, onde são construídas as nossas casas e o impacto que causamos ao meio-ambiente quando desrespeitamos regras básicas de convivência. Culpá-la por acontecimentos desastrosos e esquecer os maus-tratos que a ela dispensamos apenas ajudam a camuflar a nossa incompetência e falta de planejamento e constatar que, uma vez agredida, mais cedo ou mais tarde ela se “vingará”.

comentários
  1. juanita hardy disse:

    o que me deixou mais pensativa após ler seu artigo, foi tudo me parecer tão óbvio que fiquei com o coração apertado pelas pessoas que não têm esse mínimo de percepção crítica! coitados…

  2. James disse:

    Sabe o que me ocorreu ao ler o seu artigo?. Fazer uma defesa de nossos políticos. Loucura…? Talvez, mas devemos pensar na unificação do período eleitoral. Veja bem: Quando são eleitos, eles passam um ano para tomarem pé de como legislar, exclua-se daí os que já estão no cargo há vários mandatos; no segundo ano preocupam-se em mostrar trabalho; isso quando não capacitados, tendem a projetos com nome de ruas ou de homenagens a “mortos-vivos”. Já com a proximidade de um novo pleito eleitoral, precisam traçar estratégias para a campanha seguinte, pois o BOM político, jamais se contenta em ser um parlamentar que não tentou chegar a ministérios, presidencias e outras coisitas mais. Então meu caro amigo, que tempo vão ter os nobres candidatos para elaborarem projetos de prevenção a catátrofes?. O máximo para eles é nestas ocasiões alagarem-se de solidariedade, doando o seu precioso tempo para mostrarem aos seus correligionários que são atuantes perante a desgraça alheia.

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